terça-feira, 23 de setembro de 2008

Rappin’Hood, determinação e coragem


Antonio Luiz Júnior é um cantor de rap, mais conhecido como Rappin’Hood. Nascido no bairro do Limão, em São Paulo, ele é de origem humilde. Teve uma infância simples, e nunca lhe faltou o carinho dos pais. Aos 11 anos gostava de dançar. Nesta época, morava na Vila Arapuá, no bairro do Ipiranga. Aos 14 anos começou a freqüentar bailes e a criar as primeiras letras do hip hop, onde na danceteria Dino’s, em São Caetano do Sul, subiu ao palco pela primeira vez. A partir daí ele nunca mais parou de cantar.
Começou a freqüentar o metrô São Bento, no centro de São Paulo, point dos rappers, onde o apelidaram de Rappin’Hood, inspirados no filme “Robin’Hood e seus Guerreiros”. Hood era jovem e queria descobrir um pouco de tudo. Conheceu e descobriu a realidade das favelas, das comunidades e dos serviços de auto falante. Fundou a Rádio Heliópolis, em 92, na época formada por um sistema de corneta colocado nas ruas de toda a favela. Trabalhou sete anos como voluntário, ajudando a comunidade com diversos serviços, como moradia, saúde e a arte da capoeira.
Mas o caminho certo de Rappin’Hood era realmente o hip hop. Ele cantava sozinho, sem Dj, com freqüência, no Clube da Cidade e no Chic Show. Em 92, Hood retornou de sua carreira solo para fazer parte do grupo Possementezulu. O Dj Grand Máster Ney o convidou para participar de uma faixa de um cd instrumental, Rappin’Hood gravou “Violência nunca mais”. Foi sua primeira música em um cd. Em 98, Hood gravou com o mesmo grupo a faixa de maior sucesso de sua carreira “Sou Negrão.” “Fiz essa música para os jovens negros terem mais auto estima.”

O sucesso
Em 2001, Rappin’Hood lançou seu primeiro cd solo, “Sujeito Homem.” A proposta de gravar não foi planejada e trouxe a novidade de um rap-samba, uma versão da música “Sou Negrão.” Hood cantou com a sambista Leci Brandão. “Um dia, Leci falou que gostaria de fazer um rap-samba comigo. Decidi gravar “Sou Negrão” em ritmo de samba. Estava acostumado, nos pagodes da minha área todos já conheciam.” Participou também como ator do filme Carandiru que foi uma grande experiência que teve em sua vida.
Ele fez parte do show promovido pela Prefeitura de São Paulo, cantando ao lado de um dos maiores ídolos da música popular brasileira, Caetano Veloso. “Foi muito gratificante para mim. É inédito no mundo do hip hop”.
“O hip hop nacional sofre um certo preconceito musical pelo fato da população achar que as diversas músicas relatam somente o dia-a-dia da violência periférica.”
Hip hop é um movimento sócio-cultural de revolução e constatação, que traz quatro elementos: o Dj que faz as batidas da música; o m’c, dono do microfone que faz as rimas; breack dançarinos que durante o show sobem ao palco para apresentar seus movimentos; graffit que é a arte expressada em muros com formas e muitas cores. “Vou falar como dizia Tim Maia: eles tem medo do black, da revolução e da verdade. A revolução jamais será televisionada”, diz Rappin’Hood.
Atualmente, o hip hop nacional está ganhando mais espaço na mídia, trazendo idéias e mensagens inovadoras. ”O rap não veio para brincar, ele tem uma proposta de mudança sócio-cultural. É bom ganhar espaço na mídia, mas também tem que saber falar a coisa certa”, ensina Rappin’Hood.
Ele foi durante muito tempo vice-presidente de um projeto social no bairro do Ipiranga, na Casa 10, um centro de defesa dos direitos da criança e adolescentes, desenvolvendo oficinas e trabalhos sociais. No momento, Hood não faz mais parte das atividades, mas dá continuidade a outros projetos com o Paquistão Social, uma entidade que atua em Heliópolis e desenvolve oficinas, shows e palestras. Também trabalha na Rádio Comercial de Jundiaí, a 105 FM, onde tem o programa “Rap Du Bom”, todos os sábados, das 18h às 20h. Rappin’Hood pretende fazer um curso de locução para poder se aperfeiçoar mais na área da comunicação.
O carnaval de 2004, Hood cantou o samba enredo da escola de samba Imperador do Ipiranga, ao lado dos puxadores da escola e se emocionou muito. “Foi uma grande satisfação ter cantado o samba enredo da escola do meu bairro. Foi um sonho que se realizou de poder ser um m’c do carnaval” diz Hood.
“O envolvimento com adolescentes no hip hop é primordial, por poder alertá-los sobre o crime e as drogas, relatando a realidade de jovens que entram para o mundo do crime. Eu fui salvo pelo hip hop. A garotada pensa que são donos do mundo, quer adquirir a fama de durão e ter vaidade. No mundo do hip hop eu me auto afirmei”, acredita Hood.
Hood já lançou seu segundo cd solo, um sucesso nas paradas, o que levou a ganhar até o mundo com seu novo ritmo de rap samba .



Os valores de uma guerreira

Deus determinou que a filha de seu Bill Severino José da Silva) e de dona Maria Ferreira da Silva, no futuro iria ser uma grande vencedora. Nascida no estado da Paraíba, mais precisamente na cidade de Itabaiana, Genésia Ferreira da Silva Miranda veio de uma origem humilde. Teve uma infância simples, e nunca lhe faltou o carinho dos pais muito menos de seis irmão homens e quatro mulheres.
Aos oito anos saiu da cidade onde nasceu para acompanhar a família a Pernambuco, o pai trabalhava na roça, mas era muito longe de sua casa, era preciso dormir no serviço e retornar para a família nos finais de semana. Quando completou 14 anos, á menina Genésia começou a trabalhar em uma fabrica de fósforo “Fiatlux”, com direito a carteira assinada ela ajudava os pais que nunca lhe deixou faltar nada apesar das dificuldades, graças á Deus nunca passou fome.
Conheceu então um rapaz em uma cidade próxima a Recife quando tinha 16 anos e veio a se casar quando completou 18, com João Miranda Neto, com o consentimento de seus pais e direito á igreja e vestido de noiva.
Assim que nasceu seu primeiro filho Jailson , logo veio embora para São Paulo morar no bairro Parque São Lucas, zona leste. Seu marido trabalhava em uma empresa na cidade de São Caetano do Sul e Genésia em casa de família. Depois de muito tempo mudou-se para o Jardim Patente, zona sul da capital paulista, onde passou á morar em um curtiço.

Provando que todo sonho se realiza

Na década de 80 veio para Heliópolis, pois não tinha mais condições de sua família para aluguel,com o salário baixo que seu marido João Miranda ganahva. O orgulho de ser mãe novamente, veio com a presença de outro menino João, um amigo de João Miranda, que trabalhava junto á ele na mesma empresa, comentou de que em Heliópolis teria alguns barracos á venda., mas ele negou e não gostou muito da idéia.
“Meu grande sonho era não pagar mais aluguel e isto estava vivo dentro de mim, pensava que para sair do aluguel, só morando em favela. Difícil foi convencer João Miranda a morar em Heliópolis. A grande preocupação dele era por que trabalhava á noite, e não queria me deixar sozinha com as crianças e muito menos que eles crescessem na favela”, declarou Genésia.
Genésia teria que enfrentar outros problemas além da implicação do marido, a família não tinha dinheiro para obter um pedacinho de terra, que seria só de sua família. Então resolveu escrever uma carta aos seus pais, pedindo-lhes um dinheiro emprestado na época o valor de $120 cruzeiros, era o preço do barraco onde começava uma nova batalha.
“Eu fiquei encantada, era onde ia realizar o meu grande sonho, de não ter que pagar mais aluguel”, Genésia lembra com carinho ao fazer a declaração.
Apenas com dois dias em sua humilde casa, veio então a decepção de Genésia, com a presença de um grupo de “Grileiros” que se diziam donos dos terrenos ocupados, pretendiam cobrar um aluguel de sua família, mas Genésia resistiu á pressão e enfrentou o grupo, declarando de que não iria pagar absolutamente nada, e nem se quer comunicou ao marido o ocorrido.
“Fui conversar com alguns moradores que já residiam no local, e alguns me informaram de que se eu não colaborasse com o aluguel o grupo de “Grileiros” seria capaz de expulsar minha família e até mesmo passarem a maquina em meu barraco. Me decepcionei muito e achei que em S. Paulo não tinha lugar para mim”, relembra Genésia.
Sem comunicar nada ao marido sobre o fato que estava ocorrendo, enfrentou tudo com bravura e perseverança. Procurou a Pastoral da favela de Heliópolis comunicando o acontecido ao Frei Sérgio e a irmã Iny, que declarou que não era fácil lidar com esse problema e com esses tipos de pessoas. Também foi a Igreja da Vila Arapuá, um bairro próximo a favela, e conheceu o Padre Celso, que possuía um agente de sua pastoral que fazia um trabalho em Heliópolis.

União e força começam a se juntar

Genésia conseguiu unir apenas um morador que residia nas imediações da Estrada das Lágrimas, um senhor cujo apelido Barba. Começou há haver uma grande perseguição do grupo de “Grileiro”, que argumentavam fatos falsos á policia contra seu marido João Miranda. Até que um dia foi preso, sem saber o por que. Sua esposa comunicou a Pastoral aonde veio à ajuda do Dr. Jairo, um advogado que resolveu á prisão de seu esposo. Genésia então teve de contar ao marido de que estava fazendo parte de um grupo de mulheres pertencente a pastoral.
“Não tinha medo de nada, e enfrentava tudo e todos, para obter meus sonhos. Era difícil naquela época prender mulheres, então eles armavam para meu marido”, fala Genésia.
A união entre as poucas 60 famílias, surgiu a partir de grandes conflitos, para enfrentar os grupos que estavam cobrando aluguel da comunidade humilde. Com um pouco de receio dos grupos de “Grileiros”, os moradores começaram a participar do movimento e acreditar de que era possível vencer esta batalha.
Diversas assistentes sociais da Prefeitura de S. Paulo participavam de um grupo de mães para ajudar a comunidade, que de certa forma necessitava de bujões de gás e cestas básicas. Seu marido ficou de seu lado nesta difícil batalha, largou o emprego e aceitou uma proposta de ganhar bem menos para se juntar a Pastoral da igreja Santa Edwigens. Neste mesmo tempo o grupo de “Grileiros” se manifestou contra Genésia, seu cunhado já falecido Vilmo e seu marido, todos sofreram agressões físicas contra um grupo de dez pessoas.
“O João ficou muito machucado, foi levado as pressas ao hospital Heliópolis e sofreu um derrame no olho. Difícil era conviver com a ditadura militar, tudo era muito rebelde. Chamei o Dr. Jairo e fomos a delegacia fazer exame de corpo delito e apresentamos documentos á Secretaria de Segurança Pública, sobre a resistência da delegacia por estar envolvida na corrupção junto ao grupo de “Grileiros”. Então conseguimos ganhar o processo e ouve um afastamento do delegado e policiais”, falou Genésia.
O grupo de “Grileiros” ficou enfraquecido, Genésia reuniu-se com diversos moradores em sigilo na rua União, portanto veio a surgir o nome desta rua, pela união de seu movimento. Começou mais uma luta pela água e luz dos moradores, foi onde conseguiu a taxa mínima para a comunidade da favela.
“Na época o bairro do Ipiranga era considerado de alto escalão, mas eu acreditava que íamos conseguir com a união do povo”.
Logo após suas batalhas e conquistas em caminhos tortuosos, veio novamente surgir à felicidade em sua família, com o nascimento de seu terceiro filho homem, Joel, o caçula da família.

A era de novos tempos

Genésia mora hoje na mesma casa em que lutou com todas as suas forças pelo direito de uma moradia á sua família e a comunidade, mostrando-se uma mulher de muita coragem que nada a faz temer por qualquer coisa.
Com sua mãe já falecida e seu pai morando em recife juntamente com alguns irmãos, e outros no estado do Rio de Janeiro e interior de S.Paulo, vive para seus filhos em função da felicidade deles. Jailson o mais velho hoje casado com 28 anos e um filho mora próximo á mãe em Heliópolis; Joãozinho, 24 anos dois filhos; Joel o caçula da família 19 anos;
Sempre que pode visita o pai e irmãos que moram em Recife. A cor de preferência de Genésia é lilás, segundo ela representa as lutas de mulheres e suas conquistas. “Um bom prato para mim é arroz, feijão, bife e batatas fritas. Mas quando lembro do feijão verde do norte com frango ao molho...sinto imensas saudades do meu pai”, fala emocionada Genésia.
Sempre recebendo muito amor e carinho de sua família, entre ela seus três netos, declararam de que se relaciona muito bem com os filhos e o marido, não há conflito, todos nós somos bem compreensivos, o que não lhe falta de verdade é o carinho a atenção da família.

Heliópolis uma história de lutas e conquistas

Heliópolis surgiu com a construção do hospital na década de 70. Muitos operários costumavam dormir no local, em um pequeno alojamento a família Álvares Penteado, donos do terreno, na época chamado residencial Vila Heliópolis.
Com a desativação das favelas da Vila Prudente e Vergueiro, a prefeitura implantou alojamentos provisórios em Heliópolis para abrigar esses moradores.
A instalação dos alojamentos fez surgir à grilagem. O crescimento desordenado da favela ocorreu mediante a apropriação ilícita das terras por pessoas que queriam um terreno para erguer suas casas.
No inicio do governo Covas, em 1983, um plano apresentado pela supervisão regional de serviço social do Ipiranga pretendia irradiar a favela através de sua urbanização, construindo mais de 10 mil lotes urbanizados.
O plano não foi totalmente concluído, mas foram apresentadas algumas propostas que visaram a urbanização da favela, mas que nunca foram colocadas em prática, até que a Cohab iniciou a construção de 6.420 apartamentos nos padrões da Cohab, mas somente 318 foram erguidas.
Nessa época a principal reivindicação dos moradores, que já tinham uma estrutura organizada, era a implantação de água e luz. Hoje, a prefeitura luta para urbanizar a favela e retirar as vielas e becos estreitos que insiste em crescer, muitos moradores não concordam, por que pra onde irão quando acontecer à desativação?
A comunidade jamais para de lutar pelo crescimento e melhoria de seus moradores, assim a Cidade Nova Heliópolis ganhou um nome mais digno e os moradores endereço.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008



Sede Rádio Heliópolis

Sergio Gomes (Oboré), Renato (Rádio Heliópolis), LIbeira (Rádio Heliópolis), Sabino (Rádio Heliópolis), Ciro Cesar (Radioficina), Welligton (Oboré), Cida (Rádio Heliópolis) e Fábio (Rádio Heliópolis).

Rádio Heliópolis

Desde da década de 80, a idéia de uma Rádio Comunitária era um sonho do movimento da luta por moradia de Heliópolis, Uma rádio para contrapor a imagem negativa da e propagada pela mídia de nossa comunidade, que valorizasse nossa luta por melhores condições de vida e direito a moradia. Passou a ser uma necessidade na nossa luta. Assim em 08 de maio de 1992 nasce a primeira versão de "Rádio Popular de Heliópolis". Funcionando com cornetas instaladas em dois pontos de Heliópolis. Com a participação da comunidade vai ao ar a "Radio", falando das nossas esperanças, sonhos, vitórias e conquistas. Cinco anos depois em 27 de agosto de 1997, as velhas cornetas foram aposentadas e com o apoio de um grupo de pessoas do exterior montamos uma rádio comunitária na FM 102.3. Dois anos depois a freqüência passa a ser 98,3FM, devido a interferência do sistema nas emissoras comerciais. A contraditória lei nº 9.612 , diz claramente que as grandes rádios comerciais podem interferir nas rádios comunitárias, e nunca o inverso. Em 2002, mais uma interferência acontece, obrigando a mudar novamente a freqüência para 97,9FM que permanece até os dias de hoje. Rádio : exercício da cidadania A nossa briga que nasceu primeiramente pela conquista da posse da terra, ganhou com o projeto da rádio novos horizontes. Tornando uma bandeira de luta permanente para a legalização da Rádio comunitária de Heliópolis. Nos últimos dez anos a Rádio têm ganhando apoio de varias organizações comunitárias da comunidade, da cidade, do Brasil e do Exterior. Suas instalações no ano de 2.003, foi reformada com a apoio da Action.aid.Brasil, dentro de um projeto de desenvolvimento local, tendo como estratégia um espaço alternativo a mídia e no combate a pobreza e manipulação dos meios de comunicação. Juventude e a radio - Ferramentas de inclusão social A Rádio nos últimos anos recebe os jovens do Hip-Hop, a jovem guarda, os sertanejos e grupos de axé e forro da comunidade de heliópolis e outras. Realiza eventos, participa das quermesses, da dicas de receitas de culinária e até tem uma sessão de achados e perdidos, ou seja, documentos e até crianças de distraídos pais. O reconhecimento da Sociedade Paulistana No ano de 2.003 a luta nossa pelo direito a comunicação pela verdade e a paz, promovida pela Radio Heliópolis 98,3 FM, foi reconhecida através do prêmio: Ação Social pela promoção da Cidadania da APCA-Associacão Paulista dos Críticos de Arte de São Paulo. Recebeu o prêmio pela divulgação da parada Gay/SP da: Ação Social pela promoção da Cidadania dos Gays e Lésbicas da comunidade da Parada do Orgulho GLBT - Gays, Lésbicas, Bissexuais e transexuais de São Paulo Radio Comunitária Heliópolis uma luta de todos Vários parlamentares, personalidades, artistas, ongs, sindicatos, igrejas de várias denominações, desmostraram solidariedade quando a rádio foi ameaçada de fechamento pela policia federal (no anos 1999, 2000) E mais recentemente no final de 2.004 pela ANATEL. Este ultimo fato gerou uma grande mobilização que culminou com o compromisso do governo federal de dar encaminhamento para transformar a rádio em uma rádio educativa a exemplo da experiência da cidade de Belo Horizonte "radio favela".